Mais de metade de 230 deputados que este país elege disseram hoje 'You shall not pass' ao Governo. Do ponto de vista do Governo, parafraseando a anterior Presidente da AR, deve ter havido um inconseguimento. Pois é... não conseguiram ter um número de deputados suficiente. Agora, em vez de culpar a esquerda, deveriam perguntar-se porquê e tentar perceber onde foram longe demais e onde não foram longe o suficiente. Sobretudo deviam perceber onde deviam ter tocado e passaram mesmo ao lado. Não que isto se explique aqui, ou numa campanha eleitoral, ou sequer na AR. Mas a democracia é assim. Sobretudo, no nosso sistema, trata-se de uma soma de vontades. E as vontades expressam resultados percentuais, que são convertidos em mandatos. E que geram entendimentos (como geraram há 4 anos, e como aparentemente geraram hoje) que nos levam por caminhos que gostamos ou não. Há 4 anos uns não gostaram, hoje é a vez de outros torcerem o nariz. Mas é assim que funciona.
Hoje dissemos adeus à política de direita e custa-me pensar no que aí vem, mas a direita merceceu. Desde que comecei a ter consciência política sempre senti que pendia mais para a direita. Apesar de tudo, hoje com 31 anos, ainda não deixei de sentir que enquadro mais nessa área e confio muito pouco nas esquerdas.
Por tudo isto, hoje que o governo 'não passou' na AR deveria estar triste. Mas não estou. Não acredito que isto mude para melhor, não acredito que a esquerda se aguente muito tempo, sequer. E tenho quase a certeza que daqui a uns tempos estaremos pior que hoje. Estou feliz, mesmo.
Para quem acha que tudo o que se passou desde o dia das eleições até hoje não foi nada de democrático, temos pena. Façam contas de somar e têm a resposta. Ou façam contas de subtrair e descubram quantos deputados a coligação PàF tem hoje. Percebam simplesmente que não suficientes para fazer algo tão simples como acenar que sim e segurar um governo. Entendam que não têm a mesma força que tiveram depois das eleições de há 4 anos. E agora sim façam-se as perguntas. Porque perderam votos? Porque é que 4 anos depois a esquerda cresceu? Porque não chega dizer que as contas públicas começam a bater certo. Porque ter compromissos em termos de défice e endividamento público não é assim tão importante ou necessário. Se assim fosse, Sócrates tinha tido mais cuidado. Se assim fosse, toda a gente (ou a moiria dela) tinha percebido a necessidade do esforço nestes 4 anos. Se assim fosse,, a liderança bicéfala Passos/Portas teria conseguido assegurar deputados suficientes para hoje não passar pelo que passou.
Agora resta à esquerda atirar os foguetes, recolher as canas e fazer o que a esquerda faz bem, seja lá o que for. Ou que faça o que quiser, enquanto tiver uma maioria em entendimento. Porque pode.
À direita que temos neste país resta pensar no que não conseguiu, e que a trouxe ao dia de hoje. Onde foi longe demais e onde deveria ter ido. Eu nem sequer me posso afirmar trabalhador ou particularmente afectado pela carga de impostos. Também não espero que agora a esquerda me ajude em nada. Só queria era que não me fodessem. No fundo, o que toda a gente deve querer.
E portanto, quando olho para as expressões fodidas do Passos e do Portas, entre outros, não posso deixar de sentir que partilham finalmente hoje, do meu sentimento dos últimos tempos.