terça-feira, 10 de novembro de 2015

You shall not pass!

Mais de metade de 230 deputados que este país elege disseram hoje 'You shall not pass' ao Governo. Do ponto de vista do Governo, parafraseando a anterior Presidente da AR, deve ter havido um inconseguimento. Pois é... não conseguiram ter um número de deputados suficiente. Agora, em vez de culpar a esquerda, deveriam perguntar-se porquê e tentar perceber onde foram longe demais e onde não foram longe o suficiente. Sobretudo deviam perceber onde deviam ter tocado e passaram mesmo ao lado. Não que isto se explique aqui, ou numa campanha eleitoral, ou sequer na AR. Mas a democracia é assim. Sobretudo, no nosso sistema, trata-se de uma soma de vontades. E as vontades expressam resultados percentuais, que são convertidos em mandatos. E que geram entendimentos (como geraram há 4 anos, e como aparentemente geraram hoje) que nos levam por caminhos que gostamos ou não. Há 4 anos uns não gostaram, hoje é a vez de outros torcerem o nariz. Mas é assim que funciona.
Hoje dissemos adeus à política de direita e custa-me pensar no que aí vem, mas a direita merceceu. Desde que comecei a ter consciência política sempre senti que pendia mais para a direita. Apesar de tudo, hoje com 31 anos, ainda não deixei de sentir que enquadro mais nessa área e confio muito pouco nas esquerdas.
Por tudo isto, hoje que o governo 'não passou' na AR deveria estar triste. Mas não estou. Não acredito que isto mude para melhor, não acredito que a esquerda se aguente muito tempo, sequer. E tenho quase a certeza que daqui a uns tempos estaremos pior que hoje. Estou feliz, mesmo.
Para quem acha que tudo o que se passou desde o dia das eleições até hoje não foi nada de democrático, temos pena. Façam contas de somar e têm a resposta. Ou façam contas de subtrair e descubram quantos deputados a coligação PàF tem hoje. Percebam simplesmente que não suficientes para fazer algo tão simples como acenar que sim e segurar um governo. Entendam que não têm a mesma força que tiveram depois das eleições de há 4 anos. E agora sim façam-se as perguntas. Porque perderam votos? Porque é que 4 anos depois a esquerda cresceu? Porque não chega dizer que as contas públicas começam a bater certo. Porque ter compromissos em termos de défice e endividamento público não é assim tão importante ou necessário. Se assim fosse, Sócrates tinha tido mais cuidado. Se assim fosse, toda a gente (ou a moiria dela) tinha percebido a necessidade do esforço nestes 4 anos. Se assim fosse,, a liderança bicéfala Passos/Portas teria conseguido assegurar deputados suficientes para hoje não passar pelo que passou.
Agora resta à esquerda atirar os foguetes, recolher as canas e fazer o que a esquerda faz bem, seja lá o que for. Ou que faça o que quiser, enquanto tiver uma maioria em entendimento. Porque pode.
À direita que temos neste país resta pensar no que não conseguiu, e que a trouxe ao dia de hoje. Onde foi longe demais e onde deveria ter ido. Eu nem sequer me posso afirmar trabalhador ou particularmente afectado pela carga de impostos. Também não espero que agora a esquerda me ajude em nada. Só queria era que não me fodessem. No fundo, o que toda a gente deve querer.
E portanto, quando olho para as expressões fodidas do Passos e do Portas, entre outros, não posso deixar de sentir que partilham finalmente hoje, do meu sentimento dos últimos tempos.

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