quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Se eu um dia acabar por ser escritor algumas pessoas vão ler coisas que eu escrevi e pensar: "Não percebi bem isto, mas acho que esta parte era sobre mim"

Um dia és tu jovem, achas que sabes tudo e viste tudo, apenas para aparecer alguém que te diz: Já viste um porco a andar de bicicleta? Não? Então não viste tudo!
Como pessoa inteligente que és, percebes que a pessoa não queria dizer literalmente "um porco a andar de bicicleta", mas ficas atento até presenciar uma situação tão insólita que te leve a por o visto na alínea "Ver porco a andar de bicicleta". Pensas então que agora sim já viste tudo.
Mas dura pouco, porque vem outra pessoa que te diz que ainda não viste uma bicicleta a andar de porco. E ficas lixado, porque de facto nunca viste. Até que um dia vês e ficas feliz, arrumas o assunto e pensas que agora sim, nada mais te vai surpreender. Já viste tudo, nunca verás algo mais estranho ou impossível que uma bicicleta montada num porco. O mundo pode ser louco mas nada mais te admirará ou te deixará de queixo caído.
Então num belo dia de sol entra no parque de estacionamento um leitão montado numa moto4. Barulhento, a fazer piões e rateres, em completo desrespeito pelo silêncio e paz alheios. Gravilha pelos ares, cheiro brutal a gasolina e pneu queimado, muito fumo. Até sentes pena do motor e dos pneus desluzidos pelo miniporco. Mais estranho ainda é o leitão vir sentado no guiador com as patas traseiras, a controlar o veículo com as nalguitas, porque não só tem o banco ocupado por um passageiro como precisa das espáduas livres para fazer os piretes com que te acena a ti e aos restantes presentes no local. Quando finalmente o leitão encosta o veículo e se senta, como uma pessoa normal, dá meia dúzia de peidos ruidosos e manda-te a um sítio, ou então já é a tua imaginação que faz o leitão falar e dizer-te essas coisas.
E aí defines para ti mesmo que nunca deixarás de ser surpreendido enquanto fores vivo, por muita coisa (estranha) que já tenhas visto.

2 comentários:

S. disse...

Espera só até veres um porco calcinado! :P

Joana disse...

as saudades que eu tinha dos teus relatos profundos da vida!