sexta-feira, 22 de maio de 2020

Adapta.

Podes não ter a serra de Nogueira de um lado e a de Bornes do outro, mas tens o Caramulo a norte e o Buçaco a Sul.
Não tens o pão da tua mãe ou o de Rebordãos no mercado municipal, mas tens broa de milho amarelo se souberes procurar. E bolo da Páscoa em todo o lado o ano inteiro e quando a sogra tem tempo. 
O cheiro a eucalipto já está entranhado e não o notas, mas cada vez que voltas à terra e começas a descer de Foz Côa até ao Douro é só abrir a janela e respirar fundo que até parece uma descoberta e não um regresso. 
Tens gente nova, muita dela simpática, e a maior parte fala como o Bruno Aleixo. Qualquer dia talvez sejas tu a dizer Páteira e "ele" daquela forma estranha. A gasolina é mais barata e o carro gasta menos porque é tudo mais plano. Só te falta plantar milho e um par de laranjeiras. 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

You shall not pass!

Mais de metade de 230 deputados que este país elege disseram hoje 'You shall not pass' ao Governo. Do ponto de vista do Governo, parafraseando a anterior Presidente da AR, deve ter havido um inconseguimento. Pois é... não conseguiram ter um número de deputados suficiente. Agora, em vez de culpar a esquerda, deveriam perguntar-se porquê e tentar perceber onde foram longe demais e onde não foram longe o suficiente. Sobretudo deviam perceber onde deviam ter tocado e passaram mesmo ao lado. Não que isto se explique aqui, ou numa campanha eleitoral, ou sequer na AR. Mas a democracia é assim. Sobretudo, no nosso sistema, trata-se de uma soma de vontades. E as vontades expressam resultados percentuais, que são convertidos em mandatos. E que geram entendimentos (como geraram há 4 anos, e como aparentemente geraram hoje) que nos levam por caminhos que gostamos ou não. Há 4 anos uns não gostaram, hoje é a vez de outros torcerem o nariz. Mas é assim que funciona.
Hoje dissemos adeus à política de direita e custa-me pensar no que aí vem, mas a direita merceceu. Desde que comecei a ter consciência política sempre senti que pendia mais para a direita. Apesar de tudo, hoje com 31 anos, ainda não deixei de sentir que enquadro mais nessa área e confio muito pouco nas esquerdas.
Por tudo isto, hoje que o governo 'não passou' na AR deveria estar triste. Mas não estou. Não acredito que isto mude para melhor, não acredito que a esquerda se aguente muito tempo, sequer. E tenho quase a certeza que daqui a uns tempos estaremos pior que hoje. Estou feliz, mesmo.
Para quem acha que tudo o que se passou desde o dia das eleições até hoje não foi nada de democrático, temos pena. Façam contas de somar e têm a resposta. Ou façam contas de subtrair e descubram quantos deputados a coligação PàF tem hoje. Percebam simplesmente que não suficientes para fazer algo tão simples como acenar que sim e segurar um governo. Entendam que não têm a mesma força que tiveram depois das eleições de há 4 anos. E agora sim façam-se as perguntas. Porque perderam votos? Porque é que 4 anos depois a esquerda cresceu? Porque não chega dizer que as contas públicas começam a bater certo. Porque ter compromissos em termos de défice e endividamento público não é assim tão importante ou necessário. Se assim fosse, Sócrates tinha tido mais cuidado. Se assim fosse, toda a gente (ou a moiria dela) tinha percebido a necessidade do esforço nestes 4 anos. Se assim fosse,, a liderança bicéfala Passos/Portas teria conseguido assegurar deputados suficientes para hoje não passar pelo que passou.
Agora resta à esquerda atirar os foguetes, recolher as canas e fazer o que a esquerda faz bem, seja lá o que for. Ou que faça o que quiser, enquanto tiver uma maioria em entendimento. Porque pode.
À direita que temos neste país resta pensar no que não conseguiu, e que a trouxe ao dia de hoje. Onde foi longe demais e onde deveria ter ido. Eu nem sequer me posso afirmar trabalhador ou particularmente afectado pela carga de impostos. Também não espero que agora a esquerda me ajude em nada. Só queria era que não me fodessem. No fundo, o que toda a gente deve querer.
E portanto, quando olho para as expressões fodidas do Passos e do Portas, entre outros, não posso deixar de sentir que partilham finalmente hoje, do meu sentimento dos últimos tempos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

The irony is killing me

Receber no meu e-mail profissional candidaturas espontâneas quando eu também procuro emprego é algo estranho. De pessoas mais velhas, mais experientes e com um CV mais extenso. Com carta de apresentação individualizada e tudo. 
Boa sorte, miúdos.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Quem pede factura com NIF num hipermercado e não tem de a entregar ao contabilista por algum motivo merecia ser espancado com um bacalhau graúdo. Pronto, já disse.

Encontrei-o apenas ontem por causa de uma pesquisa no Google. E hoje, tau, uma conversa de caixa de hipermercado que merece ser postada.
Senhora velhota e marido à minha frente. O senhor a arrumar a tralha sozinho e a senhora meio cansada (ou não) senta-se na cadeira da caixa vazia do lado. A mandar bitaites, a perguntar se tinha dinheiro no cartão. Queria factura com NIF mas enganou-se duas vezes a dizer o número. A funcionária paciente e educada ainda teve de se esticar para apanhar o cartão de contribuinte que a senhora lhe estendeu sem grande vontade de lho fazer chegar.
Atrás de mim um casal provavelmente alemão ou algo assim. O senhor meteu conversa comigo num espanhol quase perfeito mas com sotaque Rammstein.
Perguntou-me se era português, e tendo eu dito que sim, quis saber porque é que diziamos o NIF ao pagar as compras. Pensava ele que era obrigatório quando se pagavam as compras com MultiBanco. Expliquei que não era obrigatório nem exclusivo dos pagamentos MB. Expliquei-lhe aquela coisa de se poder ganhar o Audi, de o governo achar que assim haverá menos fuga aos impostos. Ainda lhe disse que assim o estado também saberá facilmente, se quiser, onde e quanto gastamos. Ele perguntou se eu dava o NIF e eu expliquei que ali não, que nem achava lógico e só o fazia em compras grandes ou importantes e que não atrasassem a vida de outras pessoas. Tudo isto enquanto a funcionária passou as minhas compras e eu as ensaquei. Ela claro está perguntou como tem de ser se queria NIF na factura e eu disse que não era preciso. Paguei e já na despedida o senhor vira-se para mim e diz: Taambéém vou fazerrr como tuuu!
Eu sempre achei que esta ideia do NIF em todo o lado era uma palhaçada tipicamente portuguesa. Hoje Tive a certeza.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Se eu um dia acabar por ser escritor algumas pessoas vão ler coisas que eu escrevi e pensar: "Não percebi bem isto, mas acho que esta parte era sobre mim"

Um dia és tu jovem, achas que sabes tudo e viste tudo, apenas para aparecer alguém que te diz: Já viste um porco a andar de bicicleta? Não? Então não viste tudo!
Como pessoa inteligente que és, percebes que a pessoa não queria dizer literalmente "um porco a andar de bicicleta", mas ficas atento até presenciar uma situação tão insólita que te leve a por o visto na alínea "Ver porco a andar de bicicleta". Pensas então que agora sim já viste tudo.
Mas dura pouco, porque vem outra pessoa que te diz que ainda não viste uma bicicleta a andar de porco. E ficas lixado, porque de facto nunca viste. Até que um dia vês e ficas feliz, arrumas o assunto e pensas que agora sim, nada mais te vai surpreender. Já viste tudo, nunca verás algo mais estranho ou impossível que uma bicicleta montada num porco. O mundo pode ser louco mas nada mais te admirará ou te deixará de queixo caído.
Então num belo dia de sol entra no parque de estacionamento um leitão montado numa moto4. Barulhento, a fazer piões e rateres, em completo desrespeito pelo silêncio e paz alheios. Gravilha pelos ares, cheiro brutal a gasolina e pneu queimado, muito fumo. Até sentes pena do motor e dos pneus desluzidos pelo miniporco. Mais estranho ainda é o leitão vir sentado no guiador com as patas traseiras, a controlar o veículo com as nalguitas, porque não só tem o banco ocupado por um passageiro como precisa das espáduas livres para fazer os piretes com que te acena a ti e aos restantes presentes no local. Quando finalmente o leitão encosta o veículo e se senta, como uma pessoa normal, dá meia dúzia de peidos ruidosos e manda-te a um sítio, ou então já é a tua imaginação que faz o leitão falar e dizer-te essas coisas.
E aí defines para ti mesmo que nunca deixarás de ser surpreendido enquanto fores vivo, por muita coisa (estranha) que já tenhas visto.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

One more day

Burros, avestruzes everywhere. Por todo o lados calhaus com olhos. Com olhitos admirados. Calhaus cegos até. Principalmente calhaus cegos de ideias. Burros como portas, burros como sinos. Dia após dia com os seu casacos de dono de funerária, a circular na rua, nos locais de trabalho, nos tascos que vendem Porto a 80 cêntimos, nos tribunais e nas empresas. Calhaus avençados, calhaus que levam clientes a vender alfaias agrícolas para pagar honorários manifestamente exagerados e muitas vezes imerecidos. Não sei como  alguns não levam um tiro ou umas punhadas no focinho.
Aves raras que se apresentam de cada vez que cumprimentam uma pessoa, mesmo sendo já a terceira ou quarta vez que cumprimentam essa pessoa. Gajos sem espinha dorsal e sem qualquer outro osso, que atiram a mão solta num cumprimento que de aperto de mão só tem o nome. Cabrões e putas que estão há um mês para responder a um e-mail com uma questão muito simples (escritórios grandes, fabricas de facturar). Ministros, secretários de estado e acessores da treta. Tipos que 'trabalham' em consultoras, agências disto e daquilo.
Espero que todos tenham rugas precoces e úlceras e tomates descaídos. Furúnculos na testa. Que fiquem todos como o retrato n'O Retrato de Dorian Gray. Tudo numa idade algo jovem. E que se reformem cedo. E que se mudem para um país tropical e não voltem.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

'Jota Sanabresa'

'Yo no te digo adiós,
porque es palabra muy triste,
y entre dos que bien se quieren,
cuesta mucho despedirse.'

domingo, 29 de junho de 2014

Quem corre por gosto...

Quando era estudante detestava as viagens de autocarro que duravam de três horas e pouco até cinco, por vezes. Uma das coisas que mais me dava vontade de acabar o curso era nunca mais ter de viajar de autocarro. Nunca mais - pensei eu com alívio na altura em que fiz a última, sabendo que voltaria ao Porto uma outra vez para trazer a tralha toda de casa mas faria já a viagem a conduzir. Nunca mais.
Hoje dou por mim a viajar novamente de autocarro, a fazer mesmo percursos um pouco mais longos. 
Mas as pessoas mudam e hoje quando chego a casa, em vez de pensar 'já acabou' dou por mim a querer que a próxima viagem não demore muito a acontecer.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Pancadas

Com o Cartão do Cidadão caducado. Motivo: À espera que a barba cresça um pouco mais para a fotografia.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Começar o dia a rir muito.

Júlio pela manhã, com umas calças cagadas de andar na vinha a podar e uma t-shirt da Sagres Mini. Dirige-se ao Sr. Rui da loja das cenas agrícolas com intenção de comprar um serrote novo. Diz bom dia. Resposta do Sr. Rui depois de olhar para Júlio de alto a baixo:
 - Bom dia, Sr. Dr.! Então hoje é dia de reforma agrária?

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Teoria da relatividade

Hoje a minha mãe pediu-me para carregar uma saca de farinha de 25 Kg da garagem para o forno e custou-me. Há uns dias, o equivalente a duas sacas de farinha pareceu-me ter apenas metade do peso.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Se calhar só gostava mesmo era de ver as caras deles...

Senhores da PJ, se o meu telemóvel estiver sob escuta, gostava que me enviassem as transcrições dos últimos dias para memória futura! Obrigado.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Strange things happen

Encontrei uma bolota no meu carro, do lado do passageiro. Não imagino quem poderá ter perdido tal coisa.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Um poema de alguém que os sabe.

en diciembre 
luego de aguaceros torrenciales 
   
inundan las flores de los tilos 
en diciembre 
unánimes 
verde / oscuro / amarillo 
en no sido diciembre 
tu recuerdo 
umbrías veredas perfumadas
expectante vos
sentada en el umbral del final de nuestra infancia
a la espera
vos
rubia / leve / blanca
espectros del aroma de los tilos
en diciembre
vos
yo
año
tras
año
tan nunca siempre
ambos


aqui